Em nossas ações cotidianas, compartilhamos ideias e ideais. Nas ideias, juntos, crescemos no tempo; nos ideais, pelas individualidades, impulsionamos motivações em favor de grandes feitos.
Ao me reportar a grandes feitos, ressalto aqui um binômio por que tanto prezo. Amor e Compaixão. Esse binômio é, marcadamente, bíblico. A ele acrescento, em favor dos sencientes, Amor aos animais e Compaixão pelos… Mas por que falo assim? Porque, como a maioria das pessoas, particularmente dos mestres, tenho um propósito de vida, fazer disseminar e trazer à tona o respeito aos destituídos de linguagem no que concerne ao mais complexo e profundo sentido do termo linguagem, visto que esse é também um dos grandes propósitos dos mestres: dar voz a quem, em princípio, pode parecer dela destituído ou quase que destituído.
Por esse ângulo, evidencio o que já nos é sabido. Há muito o homem caminha pelo mundo, descobrindo-o, conhecendo-o mais e mais, modificando-o sempre, ainda que “a duras penas”, segundo suas ambições, intuições e “necessidades”.
Acerca desse aspecto, escreveu Da Vinci: “Quem te impele, ó homem, a abandonar a tua casa na cidade, a deixar parentes e amigos, para te dirigir a lugares campestres, percorrer montes e vales, se não a beleza do mundo?”
Por essa constante e incomensurável perseguição ao ainda desconhecido e pela perene ânsia de desvendar novas veredas, o homem avança a largos e acelerados passos pela ciência, um avanço que levou Goethe – contemporâneo do alvorecer do mundo técnico-científico que nos rodeia – a reagir ao abismo que existe entre a sua teoria acerca das cores e a ótica de Newton.
Em uma tarde de inverno, observa Goethe:
Se, durante o dia, com o tom amarelado da neve, se tinham notado sombras levemente violetas, estas deviam considerar-se de um azul intenso, agora que se refletia um amarelo mais forte das partes iluminadas. Mas, quando finalmente o Sol se aproximava do poente e os seus raios, que a penumbra mais forte tornava mais intensos, cobriam com a mais bela cor púrpura todo o mundo que me rodeava, então a cor das sombras transformou-se em verde, um tom de verde que, pela sua claridade, se podia comparar com um verde-mar e, pela sua beleza, com um verde-esmeralda. O fenômeno era cada vez mais vívido.
Tinha-se a impressão de estar num mundo mágico, porque tudo se tinha revestido das duas brilhantes cores, que tão bem se conjugavam uma com a outra; até que finalmente, com o pôr do sol, o esplendoroso fenômeno se esbateu num crepúsculo cinzento, a pouco e pouco, numa noite iluminada pela lua e pelas estrelas.
Ressalta ainda Goethe: “A engenharia que ganha terreno atormenta-me e enche-me de pavor. Sobe rodopiando lentamente, muito lentamente, tal como uma tempestade. Mas tomou a sua direção e há de chegar à meta e atingi-la.” Goethe sabia o que se aproximava e formou os seus pensamentos quanto à maneira como esse devir reagiria ao comportamento do homem.
O mundo determinado pela ciência tornou-se uma realidade, entretanto falta ainda muito para o ápice desse caminho. Resta-nos, hoje, esta parada para reflexão e tomadas de posição precisas, comedidas e seguras para que possamos vislumbrar o tão almejado bem supremo da obra humana.
O tempo passa, não importa… Vai muito adiantada a marcha da humanidade. A Natureza se fez arte e, hoje, viver é um difícil mister, que é preciso (re)aprender. “Viver é muito perigoso.” (Guimarães Rosa, na fala de Riobaldo).
Ao lado de tanta tecnologia, qual a melhor saída? Decerto, a comunhão entre tecnologia e humanismo, dado o profundo desejo de equilíbrio pleno entre o “ser” e o “fazer”. É no anseio do equilíbrio pleno entre homem e Natureza, que o poeta, na transcendência à materialidade, ao palpável, atinge o conhecimento da causa primeira das coisas. E o que compete a cada um de nós?
A nós compete a preparação do desabrochar do homem, do homem síntese espírito-matéria, do homem que respeita a cultura, mas que, sobretudo em prol da Mãe-Natureza, trabalha em favor de uma sociedade, cuja rede de relações deve ser extremamente sólida, (cons)ciente e limpa, no que concerne aos direitos humanos e dos animais não humanos – os (sen)cientes.

Catarina Labouré Madeira Barreto Ferreira, escritora e poetisa, é Doutoranda em Educação, Mestre em Letras e Ciências Humanas, Pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa, Graduada em Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa, bem como em Pedagogia.
Tem formação acadêmica em Latim, Francês e Espanhol. Concluiu a sua carreira de magistério público na Universidade da Força Aérea (UNIFA).
No Brasil, é membro efetivo e correspondente de renomadas academias de Artes, Ciências e Letras. No Centro de Literatura do Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana, é “Artilheiro da Cultura”. É, também, Grand Ambassadeur da Divine Académie Française des Arts, Lettres et Culture, membro vitalício do Núcleo de Letras e Artes de Buenos Aires e membro correspondente do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Portugal (NALAP).
Além da experiência adquirida no exercício da docência, tem participação em bancas de processos seletivos em concursos públicos e em trabalhos de revisão textual na Revista da UNIFA, de cunho científico, e nos seguintes livros publicados pelo Centro de Documentação da Aeronáutica (CENDOC) em 2021 e 2023, em homenagem aos 148 anos e 150 anos de Alberto Santos Dumont, respectivamente, intitulados: “E o mundo falava de Santos Dumont”; “E o Brasil falava de Santos Dumont”.
É detentora de prêmios e de publicações nos campos acadêmico e literário. Entre os prêmios obtidos, estão a condecoração de Destaque Acadêmico na Universidade da Força Aérea, em 2017, e a Medalha Mérito Santos Dumont, emitida pelo Comando da Aeronáutica, Força Aérea Brasileira, em 2020.
Instagram Catarina Labouré
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Amei suas colocações….parabéns…texto belíssimo….
Não esperava nada menos de você
Amiga de sempre!
Fico orgulhosa por tê-la em minha vida e estar a parte das suas realizações.
Só me cabe torcer ,torcer,torcer…
torcida merecida!
Beijo grande!
Um artigo Muito bem elaborado! Excelente!
Uma vez, um sábio amigo me disse que nosso papel no mundo era “distribuir o amor” e esse conceito ficou comigo desde então.
Creio que é isso que falta nesse nosso mundo de hoje, o AMOR. Quando amamos a Deus e ao próximo, somos capazes de fazer o mundo melhor, assim, atingiremos o equilíbrio em meio a tanta tecnologia e novas descobertas.
Sábia reflexão, amiga Catarina, texto muito lindo e completo, que todos possam ler e refletir suas ações.
“Ideias e ideais” – admiro demais sua arte oceânica de conhecimento gramatical e poético da nossa amada língua portuguesa.
Que Texto Magnífico! Parabenizo está grande Poeta Catarina Labourre que sempre está nos presenteando com esses belos textos .
Excelente abordagem, com citações primorosas, bem ao estilo de uma acadêmica culta, inteligente e sensível.