“Qual é o pior caos: o interno ou o externo?”
Se são as nossas ações que moldam o mundo, então vivemos diretamente as consequências delas. Mas qual o limite? O raio de ação pode ser amplo e a lei da física de reações é inexorável. O caos instalado é como o efeito de tocar a água com a ponta do dedo e os círculos subsequentes se expandem de forma concêntrica por toda a área do lago.
O Coração das Trevas, escrito por Joseph Conrad em 1902, o livro inspirou o filme Apocalypse Now de Francis Ford Coppola. Enquanto o livro se passa em tempos mais remotos no Congo central, o filme se situa na guerra do Vietnã, colocando o Sr. Kurtz como um coronel americano condecorado, que em seu sombrio fim, busca abrigo na selva.
A primeira cena do filme já é uma amostra da insanidade total por vir. O Coronel ordena um ataque aéreo preciso e muito bem coordenado a um alvo aparentemente civil pois à proximidade a uma praia (pico) com ondas perfeitas proporcionaria aos seus homens um ótimo dia de surfe e festas regadas a cerveja, churrasco e violão na areia em meio à visão do inferno.
Os helicópteros chegam municiados de metralhadoras automáticas, explosivos e pranchas de surfe. A prancha preferida do Coronel mais adiante seria propositalmente roubada e isso objeto de muitas controvérsias.
O que leva um Coronel de alta patente, com muitas honras militares e medalhas por bravura a agir como um cruel psicopata?
As ações exóticas do Coronel Kurtz começaram a extrapolar todos os limites até do que é considerado aceitável pela cúpula militar em um conflito bélico.
A minha vontade agora seria esmiuçar os detalhes de uma obra fantástica mas parei aqui para questionar as ações de um homem dentro de um contexto de um surto psicótico. Sim. Todos os homens têm o seu limite.
O do Coronel foi partido em pedaços durante a sua marcante e controversa trajetória. De forma irreversível e irretocável.
Ele é visto por vilão por uns e como herói por outros e temido e respeitado por todos.
Até comenta-se que da sua própria maneira estava “ganhando a guerra”.O Coronel “cruel e perverso” certamente em algum momento da sua mísera existência deixa de responder por si (William James, um dos pais da psicologia, distingue em 1892 entre o “eu”, como a instância interna conhecedora, e o “si mesmo”, como o conhecimento que o indivíduo tem sobre si próprio), e os delírios se sobrepõem a qualquer resquício de vínculo com a realidade. Aliás, a uma realidade daquelas, o mais são não seria desvincular-se mesmo?
Insanidade define bem o status mental desse militar.
No fim, o narrador, um Capitão do exército americano (Charlie Sheen) que infiltrado com a missão de dar um fim a vida de Kurtz, deixa claro que o destino final do Coronel estava traçado (por concessão dele mesmo e certamente muito deprimido) e que até a Selva desejava a sua morte.
Rodrigo Santana
- dois toques geniais do Coppola durante as filmagens: abrir a cena de devastação pelos helicóptero com uma fita de rolo tocando Cavalgada das Valquírias de Wagner e no fim, “The End” do The Doors como prenúncio à morte do Kurtz.
- O próprio Coppola teve um colapso nervoso durante as filmagens (talvez como consequência a exposição da tensão do set de filmagem e possível transtorno do humor bipolar; como o anti-herói Kurtz?)
Rodrigo Santana Nascimento, é brasileiro, nascido em Aracaju-SE em 16 dezembro de 1976. Formado em Medicina pela UFBA em 2001. Fez residência médica em Psiquiatria na cidade de Salvador. Atualmente mora em Jataí, Goiás e é ex-médico militar da Força Aérea Brasileira (onde serviu por nove anos), e concursado no cargo de médico perito especialista na Universidade Federal de Goiás, emancipada ao título de Universidade Federal de Jataí.
Amante da natureza, de boa música, poesias, vinhos, e do mar e mergulho. Apaixonado pela família, segue os ensinamentos dos seus pais, Dilermando Alves do nascimento e Maria Clara Santana Nascimento. Casado com Juliana Paiva. Pai.
Poeticamente influenciado por obras de Graciliano Ramos, William Blake, John Milton, Maiakovsky, Jack Kerouac, Allen Grinsberg e Emily Brontë entre outros.
Acredita que a arte dos poetas pode sensibilizar e transformar as pessoas. Tem Deus como sua fortaleza maior.
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Publicações:
Autor do livro Ensaios da Sombra, a sua obra de estreia, com 54 unidades poéticas de sua autoria, divididas em 82 páginas. Lançado pela Quarteto Editora em 2011, em Salvador e revisado por Heloísa Prazeres.
Coautor nas Antologias Poéticas, “500 Anos de Camões”, em homenagem a Camões, O Príncipe do Poetas e “Chega de Saudade”, um tributo a Tom Jobim, ambas organizadas pelo ilustre Zecca Paim. Selo Antologias Brasil.
